Digressão: fundamental em JL
Finalizei meu último post contando o momento quando estava querendo revisar o livro e não conseguia. Aqui preciso deixar claro que a dificuldade na revisão vinha da fluidez do texto e de aprimoramento em técnica literária, por isso os três cursos que fiz em São Paulo (com Áurea Rampazzo, Fabrício Corsaletti e Marcelino Freire) tinham um conteúdo mais literário. Não vinha de uma deficiência de embasamento em Jornalismo Literário, pelo contrário, estudei tanto sobre JL nos quatro anos de faculdade que me sentia seguro quanto a esses aspectos de Cegueira sem Ensaio. E neste post aproveito para fazer uma digressão e explicar a importância desse fundamento no texto de JL. Falarei aqui de uma das principais obras sobre o assunto, não muito conhecida, mas que traz uma gama de exemplos e história do Novo Jornalismo nos anos 1960 nos EUA, onde tudo começou. A Turma que não escrevia direito, de Marc Weingarten.
A obra retoma textos produzidos, em um período de sete anos, por um time de jornalistas de primeira, mas que foram muito contestados à época: Gay Talese, Tom Wolfe, Joan Didion, Hunter S. Thompson, Truman Capote, Norman Mailer, John Sack e mais. Pasmem, esses caras foram classificados por jornalistas tradicionais como "parajornalistas", textos os desqualificavam. Nada de novo quando qualquer tipo de revolução se dá em qualquer campo.
Com eles vieram as reportagens com forte influência do realismo (construção cena a cena, símbolos de status de vida, diálogos completos e alternância das vozes narrativas — isso muito bem explicado por Tom Wolfe, em Radical Chique e o Novo Jornalismo). Em A Turma que não escrevia direito você encontrará tudo que precisa saber sobre JL em abundância. Abundância de nomes de autores, editores e mídias que deram suporte para que o movimento do Novo Jornalismo (que, aliás, não gostava de ser entitulado assim), pudesse florescer e comprovar que uma forma mais profunda e rica de narrar histórias reais era fundamental, uma vez que as ferramentas tradicionais do jornalismo eram inadequadas para descrever as tremendas mudanças culturais e sociais daquela era. Parece bastante atual e pertinente para os tempos em que vivemos, não? Penso que passamos no Brasil por períodos de tensão social muito parecidos com os EUA, mas com atraso de 40, 50 anos (e não sou fã dos EUA, apenas uma constatação histórica que tratarei em outro post). O importante neste é ficar claro o que é uma digressão. Ao comentar sobre o embasamento em JL aprendido na faculdade, faço uma "pausa" no texto, insiro informações relevantes para que o leitor compreenda melhor sobre que estou falando, antes que eu retome a narrativa de onde parei. Um mestre em digressões em literatura é Gabriel García Márquez.
Em futuros textos digressarei (neologismos também podem ser interessantes) sobre outros aspectos fundamentais em JL. E como os usei em Cegueira sem Ensaio. Até já.